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Crónicas de uma Vida Pouco Privada

Espaço dedicado à vida pouco privada de uma família de quatro, mãe, pai, mini e micro, gerido pela mãe que tenta não se esquecer de ser mulher e companheira quase todos os dias...

Espaço dedicado à vida pouco privada de uma família de quatro, mãe, pai, mini e micro, gerido pela mãe que tenta não se esquecer de ser mulher e companheira quase todos os dias...

Da Felicidade...

Uma das razões porque me afastei um pouco do Facebook foi exactamente a necessidade de explorar a desgraça e vitimização e a falsa felicidade, para não falar da incitação ao ódio que cada vez surge mais no universo online. 

Sempre que faço o scroll pelo feed, sim porque continuo a ir à plataforma porque a maioria dos eventos que acontecem estão lá e convenhamos que é uma excelente forma de estar em cima do acontecimento, vejo demasiados posts onde se explora a vitimização, a descredibilização de alguns classes profissionais, a desgraça alheia que na maioria das vezes nem é verdadeira, ou como somos todos muito injustiçados. Confesso que não acredito em 90% do que passo os olhos naquela plataforma, só partilho aquilo que acho que vale a pena partilhar o que em resumo é pouquíssimo, ultimamente acho que se partilhei três posts desde que o ano começou foi muito.

Hoje ao passar os olhos por uma das revistas digitais que ás vezes espreito de manhã enquanto tomo o pequeno almoço, li esta pequena peça, e revejo-me tanto no que o senhor diz. A felicidade são momentos, vivências, instantes... "Collect moments not things" reflecte cada vez mais a minha forma de viver o mundo. 

A peça também explora a forma como vivemos hoje e vai de encontro ao já tenho falado tanto aqui.

"Esta conclusão ajuda também a perceber a cultura das redes sociais em que vivemos, em que se dá mais importância ao que se vai publicar e mostrar aos outros do que aproveitar de facto o momento. Os seguidores e o número de amigos são mais importantes do que passar tempo com as pessoas de quem gostamos."   

 

Coisas #42

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1 Coisa: Ainda falta quase um mês para o Carnaval e a minha cidade já está enfeitada e eu ainda tenho de arranjar fatos de Carnaval alusivos ao circo para os dois carnavaleiros. 

2 Coisas: Eu detesto chuva, mas preocupa-me um pouco de já estarmos em Fevereiro e chuva nem vê-la.

3 Coisas: Voltar de férias e regressar ao trabalho quase no dia seguinte é quase como levar com quando a água fica de repente gelada, durante um banho quente. 

4 Coisas: Não gosto das mochilas versão mala, eu sei que estão super na moda, que toda a gente usa e acha super prático, mas a mim só me faz lembrar os tempo de escola e nem nessa altura eu usa mochila, na maioria dos anos usei malas a tiracole. (mais uma vez a cena de estar "off" desta sociedade)

5 Coisas: Li esta reportagem do Público sobre a "mulher portuguesa", e concluí que ou não sou portuguesa, ou não sou mulher, ou tenho uma sorte do caraças, ou por último, soube escolher... Faz-me um pouco confusão este tipo de generalizações e este tipo de análises estatísticas, que levam a uma imagem que na minha opinião não é real. Mas eu também estou sempre a dizer que não me sinto enquadrada nesta sociedade, por isso bate certo.

Só uma dica sobre este assunto, para viver um relação saudável em todos os aspectos, inclusive na gestão da casa, são precisas duas pessoas, diálogo e respeito.

Da Palavra do Ano

A palavra do ano 2018 foi "enfermeiro", seguida de perto por "professor".

São duas profissões, que honestamente não seria capaz de exercer, a primeira, porque sangue e feridas é uma coisa que me perturba, ao ponto de ficar mal disposta, além de que, não sou muito empática com gente arrogante ou mal educada, logo teria dificuldade em lidar com boa parte dos doentes.

A segunda porque seria presa por agressão a menor com quase toda a certeza, ao fim de um tempo a dar aulas.

Respeito muito ambas as profissões, como respeito todas as profissões, já que nós não somos nem mais nem menos que outro qualquer profissional, aquando do exercer das nossas funções.

Mas não foi para falar de profissões que me lembrei de escrever este post. 

Na verdade o post é sobre a palavra do ano, e não percebo como é que uma das opções não foi "egoísmo".

É que 2018 foi sem dúvida o ano em que a palavra "egoísmo" mais me veio à cabeça, sempre que via notícias, fazia scroll nas redes sociais, ou convivia com uma boa parte da população. 

Não me lembro de haver um ano em que o "egoísmo" do mundo fosse tão evidente, mas assumo que não fosse listada para palavra do ano, por uma razão muito simples, não foi verbalizada. 

O "egoísmo" é mesmo assim, todos o vemos, mas raramente falamos nele.  

 

Da notícia de hoje ...

Um pouco a propósito do post de ontem surge hoje esta notícia no Diário de Noticias:

Governo alarga licenças parentais

Por acaso, nem é bem o título que me interessa mais, mas sim o que li no corpo da notícia. Entre várias medidas associadas ao incentivo à natalidade, pode ler-se e passo a citar:

"Trata-se de uma mudança cultural que exige convocar toda a sociedade e assumir um compromisso coletivo com medidas de impacto a curto, médio e longo prazo. Este programa representa, por isso, um esforço conjunto do governo, de empresas públicas e privadas, e de entidades da administração pública central e local", lê no preâmbulo do programa, a que o DN teve acesso.

Uma mudança cultural, que eu ando a defender há bastante tempo e que é fundamental, para voltarmos a ser pais dos nossos filhos e não apenas alguém que lhes dá de comer, duas vezes por dia (já que normalmente almoçam na escola) e os acomoda na cama à noite, depois de lhes dar banho. 

Pessoalmente acho que o meu vencimento não é adequando nem à minha função, nem à minha formação, mas ultimamente já quase que nem falo em aumento (apesar de o aceitar se tal me for proporcionado obviamente que não sou hipócrita a esse ponto), falo de mais tempo. Preciso de mais tempo, mais tempo para ser mãe, mais tempo para ser mulher, mais tempo para ser eu...

Na noticia ainda refere algo porque luto quase desde entrei no mercado de trabalho, que já está referido na lei, mas que praticamente nenhuma empresa em Portugal permite colocar em prática, passo mais uma vez a citar. 

Neste "conjunto de medidas" inclui-se "a implementação de práticas laborais" como o "teletrabalho, horários adaptados, horas-limite para reuniões, ginástica laboral" e o "desenvolvimento de sistemas de apoios pessoais e familiares (formação, incentivos à partilha das licenças entre pais e mães, protocolos com entidades prestadoras de serviços em áreas diversas como a saúde, cuidado de pessoas em situação de dependência, desporto, cultura e lazer)".

O teletrabalho é totalmente possível na minha função durante pelo menos dois dias por semana (e estou a ser boazinha), e seria para mim uma mais valia enorme. Adequar horários é tão simples na minha empresa que até doí ter 1h30m de almoço, por depois sair do escritório depois das 18h, quando às 17h já podia estar a apanhar os miúdos, permitindo um ganho de quase duas horas nas nossas rotinas diárias. 
 
Têm todo o meu apoio, posso-me dar como voluntária neste projecto piloto e espero ver resultados em breve (eu sou paciente...) e não só notícias bonitas no jornal. 

 

Coisas #40

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1 Coisa: Sabes que estás a ficar meia tontinha quando vais jogar o lixo e paras pelo caminho a apanhar duas ou três embalagens que encontras pelo chão... (também faço isso na praia, acho que as pessoas já começaram a reparar...)

 

2 Coisas: Nesta altura do ano vemos sempre fenómenos extraordinários, especialmente da parte dos portugueses que vivem no estrangeiro, e não, não vou falar do quase francês que eles tentam falar. Desde jogarem-se às rotundas como se alguém lhe tivesse dado um cartão de prioridade em qualquer circunstância, passarem à frente nas filas porque têm pressa, a vir jogar embalagens no lixo (a reciclagem lá fora deve ser diferente daqui) em calção e soutien, já vi de tudo desde que o nosso querido mês de Agosto começou.

 

3 Coisas: Sempre disse para mim mesma que não queria viver ao pé de uma escola. Sempre que saía da escola e ouvia aquela gritaria toda pensava que devia ser horrível viver ali perto e estar a ouvir constantemente gritos de miúdos sem interrupção. Quando construíram o complexo escolar perto de minha casa, fiquei muito agradecida, mas sempre que passo lá à porta ainda penso o mesmo... "Fogo, ainda bem que não vivo mesmo aqui, acho que dava em maluca."

Eu adoro crianças, os meus filhos também são muito barulhentos, mas aquela gritaria de muitos miúdos juntos põe-me os nervos em franja, chamem-me fina se quiserem.

Ora isto tudo para dizer que vivo numa zona residencial, numa rua com quatro moradias, onde passam poucos carros, com horta atrás e à frente de casa, os únicos barulhos que costumamos ter são os cães (há dezenas de cães na zona, incluindo os meus), as galinhas da vizinha e as rãs da ribeira que passa ali perto, ao anoitecer. Quando decidiram abrir um centro de explicações na garagem da moradia ao lado da minha não me incomodei nada, porque eles estavam lá dentro e ninguém os ouvia. Mas os donos deixaram aquilo e alugaram. Hoje o centro de explicações é um espaço de ATL, com o seu pico de utilização nesta altura do ano. Conclusão: Gritos e apitos desde as 8h da manhã... Eu que adoro tomar o pequeno-almoço lá fora até tenho evitado, porque ouvir putos a gritar desenfreados às 8h da manhã não é propriamente uma boa forma de melhorar o meu humor matinal... Enfim sempre ouvi dizer que cada um tem o que merece... E nem vos vou falar de como é complicado entrar na minha garagem entre as 18h e as 19h...

 

4 Coisas: Eu sei que estou sempre a dizer isto, mas ver noticias neste país (se calhar nos outros também) é exasperante. A forma como se exploram os assuntos neste momento chega quase a ser nojento (peço desculpa mas é mesmo assim que vejo as coisas). 

Ora então tivemos uma onda de calor, e imaginem só... as chamadas para o INEM tiveram muito tempo de espera... Constatar o óbvio não é noticia senhores jornalistas. O jornal i até faz capa de uma suposta investigação acerca do "caos no INEM".

Pessoas, quando estamos com um alerta vermelho e temos uma situação extrema é normal que aumentem as chamadas para o INEM (especialmente porque continua a haver muita gente que não sabe o que fazer à vida por isso liga para lá porque lhe doí um dedo). E por mais que fosse perfeito o reforço de meios nestas alturas, todos sabemos que isso não é muito viável, muito menos com um estalar de dedos. Ver os jornalista explorar este assunto sem abordar a verdadeira questão é repugnante. Ver jornalistas a perguntar, a pessoas que têm o fogo às portas de casa, como se sentem é repugnante. Ver posts de Facebook, muitas vezes de pessoas que não estão em Portugal, a atacar tudo e todos é repugnante.

Ultimamente tenho vontade de me esconder nos livros e não sair deles, mas eu sei que há um mundo lá fora e por mais que eu tente não consigo não estar a par do que se passa nesse mundo. Mas confesso que cada vez é mais difícil escolher a fonte da minha informação.     

 

5 Coisas: O calor cedeu e já é possível respirar outra vez, e reforço, eu adoro o verão.

 

6 Coisas: Farte-me de comprar livros no OLX estes dias, acho que vou dar uma volta lá em casa e por uns quantos à venda também, só para fazer a coisa circular.  

 

Da Mudança de Mentalidade (Outra vez???)

Já ando para escrever este post há algum tempo, penso e repenso se devo escrever, acho que até já o comecei de depois apaguei.

Já tenho dito que ando um pouco saturada da forma como se "faz" notícia em Portugal, da forma como a comunicação social "governa" o país e da forma como todos acham de repente que está tudo mal de ontem para hoje, mas ninguém se dispõe a sugerir mudanças.

Hoje, quando encontramos um problema, temos duas soluções, ou impomos uma regra (ou lei) ou colocamos mais pessoas ao serviço do dito problema. 

Actualmente não se resolvem problemas, mascaram-se ou proíbem-se.

Uma das razões que me levou a pensar nesta situação foi o tão falado caos nas urgências dos hospitais portugueses.

Todos falaram sobre a situação, alguém postou fotografias na magnifica plataforma de linchamento publico também conhecida por Facebook (fotografias essas que tiveram o objectivo de chocar, mas que a mim só me fizeram questionar onde acaba a liberdade das pessoas que surgem na foto e começam os direitos de quem a postou, mas isso é outro assunto também muito interessante, mas para outra discussão), foram chamados ministros ao parlamento, foram abertos concursos para mais enfermeiros, veio a Bastonária e o Bastonário, vieram os sindicatos, foram disponibilizados incentivos para fixar médicos no interior, etc, etc, etc... Foi feito tudo menos o mais importante. Mudar a mentalidade de quem utiliza as urgências.

Sim eu acho que fazem falta enfermeiros no SNS, sim eu acho que faltam médicos no SNS, sim eu acho que faltam auxiliares no SNS, mas o que falta também é as pessoas entenderem que o Serviço de Urgência de um hospital serve para as urgências.

Talvez eu viva numa zona privilegiada, onde tenho um Centro de Saúde que funciona, com SAP, talvez eu tenha sorte e não fique doente muitas vezes com necessidade de me deslocar às urgências, talvez eu confie demasiado no farmacêutico, talvez... mas sempre que por ventura tenho de me deslocar às urgências verifico que uma boa percentagem de utilizadores do espaço podia ter resolvido o seu problema fora daquele local, onde além dos doentes também circulam doenças, virus, bactérias e afins.

Portugal tem uma linha de saúde que tem uma qualidade de atendimento acima da média e que nos encaminha para o local devido sem estarmos a comprometer os serviços de urgência local. 

Mais de metade  da população portuguesa(para ser optimista) nunca utilizou a Linha Saúde 24, nem sabe como funciona, não sabe que se ligarmos e tivermos realmente de ir às urgências, o hospital já está à nossa espera quando chegarmos. 

Temos de ser conscientes, temos de divulgar esta informação nas escolas, na rádio, na televisão, na missa... temos de mostrar às pessoas que é importante ser consciente na utilização de um serviço que poucos países têm a disposição como nós temos e pelo preço que nós temos.

Não, não está tudo bem no SNS, não o funcionamento do serviço não é exemplar, não o desempenho do governo não é exemplar na gestão do SNS, faltam mais SAPs (Serviços de Atendimento Permanente) nos Centros de Saúde, faltam mais enfermeiros, faltam mais médicos, faltam mais ambulâncias, mas temos de mudar de mentalidade, temos deixar de ficar à espera que o governo, que os outros resolvam. É fácil criticar e apontar o dedo sentado no sofá, mas nós, cidadãos, temos de ser conscientes, temos de deixar de olhar para o nosso umbigo e fazer algo pela sociedade e não só pelo nosso interesse. 

Hoje alguém postou um video do World Economic Forum, onde alguém dizia que temos de mudar o que ensinamos aos nossos miúdos e esta é a questão, nós temos de reaprender muita coisa, temos de reaprender a viver em sociedade e acima de tudo temos de aprender (reparem que escrevi aprender, porque acho que muita gente nunca chegou a aprender) a ser cidadão.

 

Nota: Liguem 808 24 24 24, pode ser que faça diferença.

Do Movimento #Metoo

Honestamente, muito honestamente mesmo (não fiquem chateadas comigo por dizer isto) como mulher cada vez menos me identifico com o movimento #metoo.

Entendo, defendo e respeito, mas acho que está a ser utilizado de forma totalmente errada, reconheço que continuamos a viver num mundo de homens, concordo totalmente com as denuncias feitas, e sem dúvida que é o momento de dizer basta. Mas como tão sabiamente uma das minhas melhores amigas dizia ontem, o movimento #metoo surge no intuito de acabar com o velho que se encosta a nós no autocarro, com o gajo que nos apalpa gratuitamente na discoteca ou com o ordinário que se roça em nós numa fila qualquer. Este tipo de situações sempre aconteceu e está enraizado numa geração que perpetuou este tipo de comportamento por muito tempo e eu sou totalmente a favor de sensibilização neste sentido, basta deste tipo de falta de respeito. Entendo que daí tenham surgido denúncias mais graves e com cariz mais agressivo e respeito quem passou por algo semelhante e o denunciou. O meu problema é, mais uma vez, a forma como as coisas são levadas ao extremo. 

Hoje o movimento #metoo deixou de ser um movimento cívico, de cariz educacional, no sentido de mudar a mentalidade actual no que diz respeito à forma como olhamos, tratamos e lidamos com o ser humano (neste caso, mais vocacionado para as mulheres), para se tornar numa arma de arremesso contra os homens no geral. 

Tenho a certeza absoluta, que muitos homens passaram por situações de assédio e não há qualquer tipo de referência a esse facto, é quase como se fosse proibido eles falarem, visto fazerem parte do género agressor.

Na verdade acho que se desvirtuou o objecto principal do movimento (como é costume infelizmente) o que leva a que os excessos prevaleçam sobre o bom senso, levando-me mais uma vez a remar contra a corrente e a distanciar-me um pouco.

Se acho que vivemos (ainda) num mundo de homens? Sim acho, como mais uma vez a minha amiga dizia sabiamente, para sermos um(a) gestor(a) de topo temos de abdicar da nossa vida familiar e as mulheres têm sempre mais responsabilidades nessa área que os homens, levando a que haja menos gestoras de topo que gestores de topo. Na realidade nunca ambicionei um cargo de topo, mas entendo que para atingir tal patamar a minha vida familiar seria sacrificada, também acredito cada vez que isso tem a ver com a forma como gerimos o trabalho e que no futuro, isso será um pouco diferente, hoje em dia, há muita coisa que se pode fazer através de um computador, de onde quer que seja, as empresas (e as pessoas também) é que não gostam de admitir que é possível gerir à distância. Se há falta de oportunidades para mulheres em certas áreas? Sim sem dúvida, há pouquíssimas mulheres realizadoras por exemplo, e todos sabemos que é por falta de oportunidade nesta área.

No entanto, quando olho à minha volta, julgo que a Europa está (felizmente) um bocadinho mais evoluída no que diz respeito à desigualdade de género e julgo ser por isso que o movimento teve tanto impacto nos EUA. Mas falando por mim (e eu sei que não sou exemplo para ninguém), que trabalho num universo totalmente masculino, numa equipa de 11, onde eu sou a única mulher, apenas um colega manifesta desconforto por me ver a desempenhar trabalhos mais "masculinos". Neste universo de 11 pessoas temos escolaridades e idades totalmente heterogéneas, levando-me a pensar que isto do tão falado machismo e feminismo está um pouco ultrapassado. Li algures num blog a propósito do #metoo que a autora em questão não queria que a filha crescesse num mundo onde são feitos comentários como "O teu pai vai ter de comprar uma caçadeira por causa desses teus olhos" ou "vais dar muitas dores de cabeça ao teu pai com essa carinha linda" ou algo do género. Sim este tipo de comentários é completamente desnecessário, mas também é cada vez menos frequente, o meu avô que em tempos não permitiu que a minha mãe não fosse trabalhar para uma determinada empresa porque ia trabalhar só com homens, hoje já não faz comentários de teor dos referidos acima e não vê problema nenhum em a neta trabalhar só com homens. 

É muito importante perceber que a sociedade somos nós e somos nós que criamos as diferenças que se falam neste momento, será que é alimentando um ambiente extremista que parece estar a criar um fosso entre dois mundos tão diferentes (mas que desde o inicio da vida se completam) que vamos mudar a sociedade?

Para já não tenho a resposta, mas inclino-me mais para não...

Felizmente tenho à minha volta muitos homens, que não ajudam nas tarefas domésticas, mas partilham-nas com a mulher da casa, e isso para mim é motivo de orgulho desta geração, conheço bastantes homens que depois dos 50 passaram a levantar a mesa e a estender roupa entre outras coisas, porque perceberam que aquela partilha era necessária, mais uma vez acho que é motivo de orgulho desta geração. 

Se isto se reflecte no resto do país, da Europa ou do Mundo não sei, mas também acho que não vivo numa bolha.

Sou consciente de que há países em que às mulheres nem é permitido conduzir, eu não sou naif, e leio o suficiente para saber das atrocidades que as mulheres sofrem pelo mundo (inclusive no nosso país), assim como sei que mostrar o decote ou as pernas (ou mais) é (ou era) pré-requisito para conseguir um papel em Hollywood e como é óbvio sou totalmente contra qualquer tipo de assédio sexual (dentro e fora do ambiente laboral) não consentido, mas o clima de desconforto com se começou a gerar desde que o movimento tomou proporções mundiais não transmite de todo o sucesso do objectivo inicial desta acção.

Para mim a luta, é e sempre será por um mundo melhor, e ai entra muita coisa, como a educação dos nossos filhos, a protecção do meio ambiente e a igualdade de género, como é óbvio, mas lembrem-se que a igualdade de género abrange as mulheres e os homens em todas as circunstâncias e não só naquelas que agradam mais a uns ou a outros. Não deixem que a comunicação social e as redes sociais desvirtuem as vossas (nossas) lutas e as vossas (nossas) certezas. Como uma das actrizes que não se vestiu de preto nos Golden Globes disse. 

"Nós não devemos ter que vestir preto para sermos levadas a sério."

 

Da Reeducação

Eu sei que parece que estou sempre a bater na mesma tecla, mas cada vez mais acho que se torna urgente olhar com alguma atenção para a falta de bom senso que assola este país e talvez o mundo.

A bomba que caiu no Facebook sobre os livros de actividades para meninos e meninas veio mais uma vez mostrar como é necessário agir nesta área.

Não, eu não concordo que o governo tenha recomendado a retirada do livro do mercado, acho descabido e roça muito a uma atitude de tempos que não deixaram saudades e honestamente acho que a censura não é a solução, apesar de às vezes me questionar acerca deste assunto. No entanto, para mim a questão mais importante aqui é, como é que alguém validou aquela publicação e não questionou a situação antes dos livros chegarem às livrarias, a sério que todas a pessoas que trabalharam nos livros acharam normal aquele tipo de diferenciação???

Não, eu não sou de todo feminista, na maioria das vezes não me identifico com a forma como as e os feministas tentam defender a causa e acho que na maioria das vezes o argumento está completamente desajustado. No entanto há mensagens feministas de muito valor como a da Pink nos VMAs Awards. E sim com este tipo de mensagem eu identifico-me, fazer-nos valer pelo que somos e mostrar aos outros que esse é o caminho. No entanto publicar livros para meninos e meninas com exercícios que apresentam graus de dificuldade diferentes para a mesma faixa etária é algo no mínimo pouco ético, apesar de eu defender que cada criança cresce ao seu ritmo, este facto não diferencia género, o que me faz questionar o que se passa com a nossa sociedade.

Quando a bomba rebentou no Facebook, eu senti-me agradecida por cada vez publicar menos por lá. Comecei a "fugir" um pouco daquele mundo, porque deixou de ser agradável a leitura do feed notícias, ou só leio desgraçadas (que não faço a mínima idea se são ou não verdadeiras) ou leio comentários raivosos de gente que usa o ecrã como escudo e debita todas as barbaridades que lhe vêm à cabeça.

Sim, eu sei que todas as redes sociais transbordam deste tipo de situações, mas há umas mais soft que outras.

Mas o que eu quero dizer com isto tudo é que, para não recorrermos à censura (como o governo acabou por fazer de uma forma ligeira) temos de reeducar as pessoas, temos de voltar a ensinar o respeito pelo próximo, os valores, a linha que determina onde acaba a nossa liberdade de expressão e começa o direito de resposta do próximo, a linha que determina onde acaba o nosso direito de resposta e começa o direito à privacidade do próximo, o bom senso e a boa educação.

Sem este valores bem clarificados, as redes sociais vão continuar a ser campos de batalha e vão sem dúvida continuar a fazer baixas, sejam elas livros, pessoas, ou infelizmente valores que nos costuram tanto a conquistar.